Atentado contra a criança

Não cultivamos em casa o hábito de acompanhar novelas, pois as consideramos geradoras da mais pura alienação. Mas, dias atrás, terminado o Jornal Nacional, a televisão ficou ligada na Globo e, de repente, me percebo em meio a uma novela onde uma criança, dos seus sete, oito anos, chantageava outra personagem, casada, afirmando que a tinha visto beijando um homem que não era o seu marido, e frisando algumas vezes: "Na boca..." . A mãe da criança entra na cena e ordena-lhe que pare de falar e que se retire. A menina obedece não sem antes demonstrar toda a sua rebeldia. Entendi, então, que a mãe sabia do triângulo amoroso, e por aí afora.
E fico me perguntando: como pretender que os pais deem limite aos filhos se uma novela, que certamente é assistida também pelos pequenos e que poderia ser um ótimo meio de educação e formação se os enredos fossem outros, faz apologia à safadeza e à própria imoralidade de uma criança, sem falar a dos adultos? De modo paticular, o que será dessa criança-atriz em um futuro próximo, após interpretar um papel desses? Na melhor das hipóteses, a emissora deveria proporcionar-lhe um acompanhamento psicológico para que ela possa distinguir, com clareza e precocemente, o certo do errado.
Não acompanhei, é claro, por previsível, o desenrolar da trama em capítulos seguintes. Mas fico imaginando quantas crianças haverão de seguir as atitudes dessa personagem-mirim por considerarem normal. Chantagem é normal, mau-caratismo é normal, rebeldia ao extremo é normal, tudo, enfim, numa criança, é normal, e assim por diante.
Acho que as entidades de defesa dos direitos da criança deveriam agir no sentido de estarem atentas impedindo que tais atentados aconteçam. As crianças hoje estão deixando a infância cada vez mais cedo para ingressarem em um mundo para elas ainda obscuro da internet, dos jogos eletrônicos, onde a matança generalizada é algo corriqueiro; e dos programas de tv antes destinados apenas ao público adulto. Há cada vez menos limites e agora a criação de uma personagem como essa da novela das 9 vem a estimular o vale tudo.
O problema é que os pais têm sido coniventes por não conseguirem impor-se perante os seus filhos, cientificar-se daquilo que eles estão assistindo na tv, dos saites que estão acessando na internet ou dos jogos violentos que estão rolando em seus monitores. Reclamamos muito da censura governamental em outros tempos, realmente algo execrável e que felizmente foi extinta, mas a censura paterna, esta sim, é saudável e pode ser exercida quando o pai ou a mãe sentam com o filho, dizem-lhe que não deve assistir a determinado programa e explicam, numa boa, os motivos. A repetição dessa prática, por certo, pode trazer bons resultados. (Artigo de minha autoria publicado no jornal Solidário, edição referente à primeira quinzena de março de 2010)

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