Aonde pode chegar a maldade humana
Pois ocorre que numa de nossas caminhadas matinais pela beira da praia, entre Quintão e Magistério, nestes dias de carnaval, eu e a Virgínia nos deparamos com este animalzinho, andando cambaleante em círculos, parecendo estar com problema neurológico. De início, pensamos pertencer a algum pescador dos que estavam próximos, mas assim mesmo o chamamos várias vezes e ele não atendeu. Imaginamos, então, que fosse surdo (e era). Foi aí que vimos que era também cego, e de ambos os olhos, totalmente infeccionados, saíam vermes... Os pescadores, a essa altura, já tinham ido embora. O que deveríamos fazer, então? Deixar o animal ali sofrendo não podíamos. Procurar o seu dono, impossível, já que nesta época os veranistas voltam para a cidade e costumam abandonar seus bichos. Levamos então, o cãozinho, para casa, tentando a princípio puxá-lo com uma corda, mas bastava soltá-la para ele dar meia volta. Foi no colo. Em casa, oferecemos água, que ele custou a aceitar, e ração para cães, que ele comeu muito pouco pois já não tinha quase mais dentes. Acabou comendo uma canja. Ligamos para uma veterinária que pediu que o levássemos até ela mais no final da tarde. E durante todo o tempo em que ele ficou conosco, pudemos assistir ao seu sofrimento atroz, sem poder quase manter-se em pé, batendo-se em tudo, pois não enxergava, tentando lavar os olhos com as patas e sem poder fechar as pálpebras. No consultório da veterinária, o diagnóstico foi dos piores: pouca coisa poderia ser feita, como uma dolorosa cirurgia para extrair os dois glóbulos oculares e que talvez ele não aguentasse devido à sua avançada idade. Além do mais, nossas suspeitas se confirmaram, pois ele estava realmente com problema neurológico, provavelmente ocasionado por uma pancada na cabeça. Recomendação: eutanásia, com o que concordamos e o que foi feito.
Que tipo de pessoas são essas que deixam um animal num sofrimento desses? Disse-nos a veterinária que o problema nos olhos já deveria estar ocorrendo há uns seis meses. Esse cãozinho deve ter latido muitas noites na frente da casa de seus donos espantando ladrões. Ficou velho e doente, e ficou imprestável. Já não espantava mais ninguém. Um transtorno...Um trambolho... Mas nada de morrer. Então, uma pancada na cabeça talvez pudesse resolver. Só que o bicho era osso duro de roer e não morreu. Aliás, custou a morrer com a medicação que lhe foi aplicada pela veterinária. Resistiu o quanto pôde.
Desculpem, mas não podia deixar de fazer esse desabafo ante tamanha demonstração de maldade e crueldade de parte de quem se diz humano.
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