CAPAS DE EDIÇÕES DO CORREIO DO POVO QUE CIRCULARAM E QUE NÃO CIRCULARAM

Ontem comecei a puxar pela memória e consegui alinhavar alguns fatos relacionados com a minha passagem pelo Correio do Povo. Lembrei com tristeza do fatídico dia 16 de junho de 1984, quando eu já havia preparado o material para a capa e recebi a notícia de que o jornal não rodaria. Com o choque, joguei todas as matérias no lixo sem me dar conta que hoje fariam parte da história do jornal. Penitencio-me por isso. Triste também porque era a primeira vez que meu filho Marcelo - hoje jornalista - me acompanhava para assistir ao fechamento do jornal e voltou frustrado para casa.
Quando se passavam uns dois anos, já ciente de que a Caldas Júnior tinha sido vendida, fui chamado para uma reunião e ficou-se sabendo que o Correio e a Folha da Tarde iriam voltar, mas que teriam que circular imediatamente, pelo menos com uma edição, para que a empresa continuasse detentora dos títulos. Mais dois ou três encontros com os novos donos, fui surpreendido com o convite para integrar um grupo, sob a liderança do saudoso colega Wilson Zin, que se encarregaria de preparar edições dos dois jornais que garantissem os nomes. Esse grupo era composto ainda pelos jornalistas Telmo Cardoso Costa, Elcyr Silveira e Roberto Tavares. Recebidas as diretrizes, apresentando sugestões, nos atiramos de corpo e alma sobre o arquivo do Correio do Povo e dele extraímos material referente aos cinco primeiros anos do CP, uma interessante retrospectiva que fizemos "copiando e colando". Para desespero da saudosa dona Chica, responsável pelo arquivo, colocávamos a página com a notícia selecionada na máquina de fotolito, copiávamos em negativo, passávamos para positivo e depois colávamos sobre o "paste up" (uma folha de papel colocada sobre um diagrama do tamanho da página do jornal), e a ela juntávamos outras até encher a página. Um trabalho épico. A capa deixamos por último. Decidimos o que colocar, levamos à consideração do diretor e por último rabisquei um diagrama pelo qual o diagramador Paulo Silva se baseou para finalizá-la. Anexamos a esse trabalho a primeira edição do jornal, que nos deu muito trabalho para reproduzir, pois as páginas estavam se desmanchando, e para passar de uma para a outra precisávamos fazê-lo com o auxílio de um papel ou cartão . Como a fotogravura do Correio já estava desativada há muito tempo, foi difícil fazer os fotolitos. Lembro que na noite em que rodamos a edição, com muitos convidados presentes, a secadora de fotolitos não funcionou e como eu morava próximo ao jornal, tive que ir correndo em casa, à uma da manhã, buscar o secador de cabelos da Virginia (que voltou queimado...). Esta edição foi enviada aos assinantes e agências de publicidade.
Fomos convocados para a elaboração de uma segunda edição. Fizemos esta nos mesmos moldes da primeira, só que nossa sugestão foi a de abordamos em retrospectiva todo o século XX. Quando estava montada, pronta para fotolitar, Telmo Cardoso Costa e eu decidimos convidar o diretor para dar uma olhada. Para nossa surpresa, ele determinou que mudássemos tudo, tirando todas as notícias de guerras, revoluções e catástrofes. Deixamos, então, para o dia seguinte e, ao voltarmos, ele mesmo havia feito as alterações ao seu modo.
Achamos, com isso, que poderíamos passar no caixa, pois estaríamos dispensados. Mas outra surpresa nos aguardava. Fomos chamados e recebemos a incumbência de preparar uma edição da Folha da Tarde, também com retrospectiva dos anos de existência do jornal, mas aí já sabendo como as coisas se comportavam... Fizemos, respeitando a vontade do dono, e não houve problemas.
A seguir, outra tarefa: elaborar uma terceira edição do CP, desta vez sem pesquisas, mas com textos relativos à volta do jornal, agora mais próxima. O jornalista Marco Antônio Kramer fora convidado para ser o diretor de Redação, e começou a formular convites a profissionais para integrarem os quadros do jornal. Assim é que Benito Giusti, Antoninho Gonzales e eu acabamos como os "poderosos" secretários de Redação. Benito como secretário de Abertura (trabalhava pela manhã); Antoninho, de Planejamento (trabalhava à tarde) e eu, de Fechamento; recebia a Redação do Antoninho e ia até o fechamento da capa. Esta terceira edição também circulou (como as duas anteriores) só entre os assinantes e agências de publicidade, e trouxe a relação do quadro diretivo do jornal com as respectivas fotos.
Já estávamos em pleno julho e a direção marcava para final de agosto o retorno à circulação do CP. Ficou decidido que durante o mês de agosto faríamos edições-piloto diárias do jornal, com uma tiragem mínima, só para consumo interno, a fim de que pudéssemos avaliar o desempenho do pessoal contratado - de redação e de oficinas - e de que os mais novos pudessem se capacitar à tarefa gigantesca que viria pela frente, corrigindo-se também problemas gráficos. Estabeleceu-se 23 horas como o prazo máximo para o fechamento da última página do jornal (no caso, a primeira; nenhuma outra página poderia fechar após a primeira). Nos primeiros dias foi um caos. Poucos editores conseguiram fecharam a tempo e à hora as suas páginas. Mas aos poucos as melancias foram se ajeitando no andar da carreta e chegamos com bastante capacidade ao cabo dessa longa jornada.
A 30 de agosto de 1986, um sábado pela manhã, fechamos finalmente a edição número 4 do Correio do Povo que circularia com data de 31 de agosto. Esse foi um trabalho exaustivo que começara muitos dias antes, pois se tratava de uma edição bem encorpada, com 96 páginas. Mas um trabalho glorioso. Orgulho-me de ter trabalhado com tanta gente boa e capaz e que diariamente usava de toda a sua capacidade para oferecer ao público leitor um jornal de qualidade, como sempre foi característica do Correio.
As ilustrações a seguir - parte do meu acervo - ajudam  a entender um pouco o que acabo de narrar.




Capa da edição que marcou o retorno do jornal, garantindo assim para a Caldas Júnior o nome Correio do Povo. Anexei o diagrama com meus garranchos que orientou a montagem da página

Capa da edição número 3, como a primeira, destinada apenas aos assinantes

Na mesma edição 3, a notícia da volta de Mário Quintana, que redigiu uma mensagem de júbilo pela volta do jornal e cujo original guardei comigo

Também na edição 3, a relação dos novos comandantes do jornal

Os três "poderosos" da Redação

Durante o mês de agosto de 86, diariamente tirava-se uma edição do jornal, para consumo interno, a fim de se ter ideia de quanto tempo se levaria preparando a tiragem até rodar. Nos primeiros dias aconteceu o que esta e fotos seguintes mostram: páginas ou espaços em branco

Mais espaços em branco

Como o prazo para fechamento do jornal era 23 horas, impreterivelmente, durante os ensaios iam acontecendo esse tipo de coisas

Preparando o grande lançamento em 31 de agosto. Na véspera, restavam poucas páginas, que fecharam apenas no dia seguinte, um sábado pela manhã

Horários para fechamento da edição de volta

Provas de composição que iam para a revisão. Observe-se que esta edição de retorno saiu com o número 4, em sequência às três anteriores destinadas apenas aos assinantes 

Ensaios da manchete. Notem, os mais novos, que bem acima havia determinado número de pontinhos, que demarcavam o tamanho do título

E, finalmente, a grande edição de volta, de n úmero 4, que circulou a 31 de agosto de 1986

Os novos donos da Caldas Júnior nos encomendaram também uma edição da Folha da Tarde, para garantir o nome do "vespertino da cidade"

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